Assexualidade não é doença

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por assexuais na busca da legitimação e aceitação da assexualidade pela sociedade é a solidificação da ideia de que assexualidade não é uma doença. 

Mas de onde se originou essa ideia? E por que as pessoas veem a assexualidade como algo tão anormal? 

 Sexo é vida 

Depois de um período longo da história em que a prática sexual era reprimida e vista de forma extremamente negativa, a sociedade buscou superar todos esses tabus e, atualmente, vivemos uma fase de oposição à que se passou, em que o sexo ao invés de ser reprimido passou a ser valorizado e estimulado como prática natural humana. 

O problema dessa nova visão acerca do sexo é a forma como ela é compreendida, pois se antes o sexo era proibido, ele passou a ser obrigatório. "Ninguém vive sem sexo", "ninguém é feliz sem sexo", "ninguém é saudável sem sexo". Opiniões como essas alienam a sociedade e, além de se tornarem um grande fardo para os próprios sexuais, fazem com que pessoas que não queiram praticar sexo pareçam ser anormais. 

 Psicologia e psiquiatria 

A falta de desejo sexual é, muitas vezes, um problema. Tanto é que existem diversos tratamentos que buscam solucionar problemas das pessoas que passam, por exemplo, pelo transtorno do desejo hipoativo. Porém, o fato de grande parte das pessoas que não sentem desejo sexual terem algum transtorno relacionado, não significa que todas as pessoas que se encontrem nessa situação possuam algum problema que demande tratamento. 

Infelizmente, grande parte dos psicólogos e psiquiatras ainda possuem essa visão generalizadora da falta de desejo sexual, considerando que a assexualidade seria um transtorno. E isso ocasiona uma grande perturbação por muitos assexuais que, ao se consultarem com esses profissionais, são patologizados sem necessidade. 

Essa visão distorcida existia no DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), principal manual da psiquiatria que, na definição do transtorno do desejo hipoativo, enquadrava os assexuais. Porventura, na quinta versão do manual, reconhecendo a não necessidade de patologizar a assexualidade, a definição do transtorno foi alterada ocasionando em sua interpretação a não inclusão dos assexuais. 

Lori Brotto

Lori Brotto, uma das maiores pesquisadoras a nível mundial da assexualidade, ao começar a ter contato com o tema acreditou que os assexuais seriam portadores de transtornos que justificariam a assexualidade. Sua primeira hipótese era que os assexuais achavam não sentir atração sexual por problemas como: stress pós-traumático, depressão, problemas de saúde, ansiedade, problemas no coração, alienação, pensamento suicida, dentre outros. Entretanto, ao entrevistar assexuais e entender melhor quem eles eram, ela percebeu que esses problemas não caracterizavam o comportamento da maior parte das pessoas dessas comunidades e que, na verdade, eles não justificavam a assexualidade como ela imaginara de início. 

Esse exemplo de Lori Brotto, juntamente com os trabalhos de outros pesquisadores como Elisabete Oliveira e Anthony Bogaert, mostram que a ideia patológica que muitos possuem sobre a assexualidade reflete um preconceito, já que essa ideia é um julgamento pejorativo da assexualidade sem provas concretas e científicas de que ela seria verdadeiramente um problema ou uma doença.

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