Assexualidade no BBB



Por Giórgia Neiva

Assexualidade humana é uma orientação sexual definida por falta de atração sexual. Pessoas assexuais não sofrem do mesmo estigma social experimentado pelos(as) LGBTs, mas isso não significa dizer que não há estigmas a serem enfrentados no que se refere à assexualidade, posto que a sociedade em que vivemos sugere que praticar sexo é ser e estar na normalidade.

Aos poucos, esse imperativo de ter vida sexual ativa como sinônimo de saúde e normalidade tem sido questionado pelas ciências psicossociais e biomédicas, sociedade e cultura. Parte desse questionamento se deve aos esforços e às ações politizadas realizadas por assexuais que buscam por meio de fóruns presenciais e online visibilidade para causa e despatologização dessa orientação sexual, especialmente por sofrerem na pele a discriminação e o preconceito provenientes da prerrogativa de abdicarem de práticas sexuais.

Tais esforços politizados por parte de pessoas assexuais coadunam com as iniciativas da Associação de Psiquiatria Americana (APA) em reformular seus próprios conhecimentos oriundos do século passado, isso porque os manuais de Diagnóstico e Estatística da American Psychiatric Association (DSMs) não fornecem escalas e normas definidas, mas, simultaneamente, assumem a priori uma sexualidade normativa como medida comparativa para os seres humanos. 

Nesse sentido, os fóruns online nacionais e internacionais sobre assexualidade ganham fôlego maior porque a causa também chama atenção da mídia hegemônica e alternativa. No Brasil, o debate está em alta, ainda mais agora em que um participante do programa da Rede Globo chamado Big Brother Brasil, em sua 20ª edição, se autoidentificou como assexual. Muitos comentários foram gerados a partir desse programa televisivo e é importante notar que as suposições de que qualquer relacionamento afetivo precisa ter prática sexual são problemáticas e mostra que a linguagem atual para descrever os relacionamentos íntimos é limitante e guiada por argumentos estereotipados.

Os estereótipos endossam a ideia persistente de que desejo sexual é inerente ao ser humano. Podemos perceber, a partir dos comentários gerados sobre o programa BBB, que a maior parte das pessoas que comentam o reality show se empenhou em duvidar se a identidade assexual existe de verdade, se é verdadeira ou falsa a ausência de desejo sexual no humano. Isso mostra que a assexualidade adquire certa visibilidade, mas que ainda há um grande percurso a ser percorrido para desmistificar os preconceitos e estigmas sociais.

De toda maneira, é inegável que a assexualidade encoraja a imaginar outros caminhos de afiliação e arranjos afetivos e familiares. Além disso, o reconhecimento da existência dessa orientação sexual pode servir para questionar a heteronormatividade, que privilegia as relações sexuais contra outras afiliações.

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