Tratar das concepções distorcidas que existem da assexualidade é uma missão extremamente delicada, pois denota a existência de uma visão correta e de outra errada. Mas onde se encontra essa divisão do certo e do errado? Até onde a assexualidade pode ser considerada como válida? Apesar desse grande desafio, não podemos deixar de lado o surgimento de posicionamentos perigosos sobre o tema e, por isso, precisamos nos manifestar.
Comentaremos dois depoimentos colhidos nas redes sociais que, infelizmente, não estão isolados, pois coadunam com pensamentos semelhantes de outras pessoas.
"Sou virgem e assexual. Eu gostaria de saber se vocês conhecem algum lugar que faça uma cirurgia de retirada do clitóris. Já entrei em contato em vários lugares, mas nenhum deles faz. Pode ser uma clínica clandestina. Quero fazer essa operação porque desejo ser assexual por completo."
Uma das maiores dificuldades que as pessoas possuem no entendimento da assexualidade é diferenciarem “assexualidade” de “celibato”, pois enquanto neste a falta de sexo é uma escolha, naquele “não fazer sexo” é algo mais inato, mais natural. Se o sexual opta por não fazer sexo caso seja celibatário, o assexual, ao praticar sexo, não o fará por sentir atração sexual por outra pessoa, mas para corresponder ao parceiro, para ceder às pressões da sociedade, por uma necessidade de conhecer a própria sexualidade, dentre outros motivos. Lembrando que esses exemplos não abrangem os gray-a e demissexuais, aqueles que sentem interesse na prática sexual com outra pessoa esporadicamente.
A assexualidade é uma forma de identidade, não é um diagnóstico ou algo que possa ser alcançado por intervenção cirúrgica ou medicamentosa. Ou seja, uma pessoa não vai se tornar “assexual por completo“ – algo que não existe dentro dessa concepção – retirando o clitóris – ato o qual, precisamos deixar claro, é cirurgicamente perigoso e eticamente condenável.
"Entendam sociedade machista e sexista do caramba, eu não quero ter relações sexuais apenas. Não sou arromântico, mas se as mulheres de hoje acham que necessariamente um relacionamento precisa de sexo, desculpa, eu prefiro ficar sozinho. Até porque procurar prazer nisso é idiotice. Só Deus te dá o verdadeiro prazer e satisfação, o resto é lixo."
O assexual não é um ser moralmente evoluído e muito menos o possuidor de uma forma ideal de comportamento sexual. A heterossexualidade, a homossexualidade, a bissexualidade, a pansexualidade e a assexualidade são todas formas de manifestação da sexualidade humana legítimas. Ou seja, sentir atração sexual não faz da pessoa um “idiota” ou um “lixo”, pelo contrário, pois buscar prazer no sexo é um ato natural para a maioria das pessoas sem que haja erro nisso.
Infelizmente, também é comum a associação da assexualidade como a “orientação sexual determinada por Deus”. Isso não é verdade. Como já foi dito, o assexual não é um ser mais puro ou moralmente superior, pois a atração sexual ou a falta dela não define caráter ou moral. Portanto, é extremamente errôneo, tanto do ponto de vista religioso, filosófico ou científico, condenar outras pessoas pelo sentimento de atração que possuem.
Para concluir, é importante reafirmar que assexual é a pessoa que não tem interesse pela prática sexual com outra pessoa, mas essa falta de interesse é algo que faz parte da própria construção da sexualidade do indivíduo, não abrangindo o celibato. Adotar o rótulo da assexualidade para justificar posicionamentos preconceituosos e patológicos é algo que deve ser evitado para coibir males maiores.
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